segunda-feira, 16 de março de 2015

O que as duas fotos tem em comum?






Nas duas fotos eu estava grávida e não sabia!

A primeira foto foi em setembro de 2012, durante a viagem comecei a desconfiar, mas não quis fazer o teste. Quando cheguei, fiz, deu positivo e hoje o Gui está aqui entre a gente, com 1a9meses de pura gostosura!

A segunda foto foi há exatos 8 meses, e hoje era para eu estar com meu segundinho nos meus braços se não fosse um aborto espontâneo com 7 semanas.

Resolvi escrever esse post, pois esse é o tipo de assunto que "só passando para entender". Digo isso, pois antes de acontecer comigo "menosprezava"o sentimento dessa ex-futura mãe, dizendo muitas vezes para ela: "daqui a pouco você tenta de novo", "ainda bem que foi no começo", "melhor assim do que vir com uma má formação". Enfim, achando que isso ajudaria ou amenizaria a dor dessa mulher. Mas na prática não é bem assim.

Em primeiro lugar, a partir do momento que o teste dá positivo uma avalanche de sentimentos nos toma conta, medo, alegria, insegurança, euforia, além de todos os projetos que já arquitetamos na nossa cabeça, nomes, idéias para quarto, fazer as contas para saber que mês vai nascer, que signo será, etc. Isso tudo passa em nossa cabeça em menos de 5 minutos! A cada dia que passa é uma novidade, contar para os pais, marcar consultas, fazer exames, e essa idéia de filho vai se tornando cada vez mais concreta e fazendo cada vez mais parte da rotina.

Eis que num dia super aguardado, durante o exame de ultrassonografia, o coração do bebê não é detectado. E ali, naquele monitor na sua frente, você vê todos os planos sendo despedaçados, seu coração acelera parece que vai sair pela boca, você quer ser madura e tenta ouvir o que o médico fala, mas tudo que você faz é ficar olhando para aquela imagem na tela na esperança de ver algo se mexendo. Nada acontece, um vazio enorme está no seu peito, o que você mais quer naquele momento é um abraço e poder chorar alto, gritar, mas você tem que descer da maca e ir vestir sua roupa para ouvir os "próximos passos".

No meu caso, os "próximos passos"foram um pouco mais tensos, pois estava com viagem marcada para o exterior a trabalho na semana seguinte. A primeira orientação foi cancelar a viagem, pois teria que fazer um novo US para confirmar a não evolução do embrião e só após essa confirmação agendar a curetagem. Conversei muito com a minha médica e falei para ela que eu queria muito ir viajar, pois tinha acabado de interromper um "projeto"e seria importante para mim não interromper outro. Fizemos mais um US antes da minha viagem, e não foi constatado indícios de descolamento de placenta, sendo assim, ela me liberou para a viagem (claro que fiz um seguro completo de saúde) e ela me deu vários medicamentos, mas ainda bem que não precisei utilizar nada.

Durante a viagem consegui bloquear o pensamento que estava com um embrião sem vida dentro de mim, que apesar de não ser 100% confirmado que ele já estava sem vida, eu não tinha esperança. Mas era impossível não desmontar quando via uma mulher grávida e com um filho mais velho da idade do Gui. Não tem outra palavra pra descrever a sensação, era Inveja. Eu tinha inveja que ela ia dar um irmão pro filhinho dela, eu tinha inveja que ela conseguiu levar duas gestações adiante, eu tinha inveja que ela estava lá fazendo o enxoval do bebê dela. Sei que é muito feio esse sentimento, mas sendo muito sincera com vocês, era isso que eu sentia. Os piores pensamentos passavam na minha cabeça: incapacidade, sentimento de que nunca mais conseguiria engravidar e culpa, muuuita culpa - culpa por ter bebido em um casamento, por ter tomado café demais, por ter pintado o cabelo, por ter tomado injeção para enxaqueca - tudo isso aconteceu antes de eu saber que estava grávida e a médica me explicou que os fatos não tinham relação, mas isso não diminuiu em nada minha culpa.

Voltando pro Brasil uma semana depois, para mais um bateria de exames (detalhe: ainda sentia enjoos leves), foi confirmado a interrupção da gestação e como os sinais de descolamento ainda eram leves foi agendado a curetagem.

Aí começa a fase punk. Quando você acha que está melhorando, ou que pelo menos já consegue falar sobre o assunto sem chorar, é internada na ala da obstetricia do hospital onde há exatos 1a2m atrás vc estava ganhando seu filho, onde nas portas dos quartos ao lado tinham quadrinhos com nomes de bebês, onde as visitas passavam com presente, flores e todos muito felizes, e você ali, internada, tomando indutores de parto normal e com a orientação de chamar a enfermeira toda vez que ia ao banheiro para ver se seu filho tinha saído e estava na privada. Nessa hora minha cabeça pirou, não queria olhar e chorava toda vez que sentia os coagulos de sangue saindo.

Enfim, após um dia induzindo o parto normal e sentindo muita dor, fui levada para o centro cirurgico e foi realizado o procedimento. Fim da história.

Fim da história pro marido, fim da história para os amigos, avós, familiares, mas não pra mim. Esse sentimento de perder um filho vai me acompanhar por muito tempo, não sei quanto, não sei se até eu engravidar de novo, mais algumas semanas ou pra sempre, mas ele é meu e me machuca, me fez chorar muito escrevendo aqui pra vocês e mudou totalmente o meu jeito de encarar as mulheres que passam por isso. Não quero comparar nem medir sofrimento, só quero alertar que um aborto espontâneo seja na época que for, é a perda de um filho tão sonhado e isso não é pouco.


3 comentários:

  1. Extremamente sincero seu depoimento! Parabéns pela coragem de compartilhar! Continue postando no blog, estou aqui acompanhando tudo.

    PS. Vem me visitar, quero dicas ao vivo. Beijão Má!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Oie querida!

    Li seu post, e me emocionei muito, chorei e senti sua dor, pq ela é idêntica a minha.
    Tive esse avalanche de sentimentos e emoções, e sei o quanto é difícil digerir e conviver com isso.
    A diferença entre nós é que eu estava gravida aos 42 anos, meu primeiro filho e de 12 semanas.
    Sei bem quais são esses pensamentos constantes que nos invadem, e nos atormentam diariamente, hoje eu choro ao ver as fotos das minhas amigas que engravidaram no mesmo periodo que eu, postando suas barrigas de 29 semanas, e eu aqui me sentindo vazia e incompleta.
    Sinto a mesma inveja qdo olho uma grávida, pois não tive oportunidade de seguir adiante com a minha gestação, tudo foi me arrancado tão abruptamente.
    Passei por um trabalho de parto de 24 hrs para expelir meu bbzinho de 8cm, não falo nem dá dor física que senti, e sim, da psicológica em estar em uma CTI rodeada de gestantes prestes a parir seus filhos com vida, e eu em um box no canto, sofrendo para parir o meu sem vida.
    Um anjinho tão pequenino, mas, era o meu filho um pedaço de mim que estava sendo arrancado da minha vida para sempre.
    Peço a Deus que me dê coragem, pq aceitar e esquecer será impossível.
    Bjokas querida, estamos juntas por esse sentimento de perda e dor.
    Márcia

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